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Tragédia no RS deve encarecer seguros em todo o país, diz setor

Especialistas estimam que sinistros no estado possam ultrapassar os R$ 7 bilhões.

A tragédia no Rio Grande do Sul já é um marco para as seguradoras brasileiras. A estimativa inicial do setor é de um impacto financeiro que pode extrapolar a pandemia. Além disso, as empresas não veem o episódio como uma exceção, e sim uma virada de chave quanto à percepção de um aumento nos desastres naturais no Brasil, em decorrência da mudança climática. A consequência, segundo especialistas, é o encarecimento de todas as classes de apólices em todo o país.

"Por um lado, você tem uma pressão de mais pessoas precisarem ter seguros, mas, por outro, as seguradoras também têm de considerar o risco climático no prêmio [preço do seguro] para serem sustentáveis. Não tem mágica, tudo isso precisa ser equacionado para a seguradora não colocar a sua solvência, a sua existência, em risco", diz Dinarte Bonetti, sócio da PwC e especialista em resseguros.

De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, 166 pessoas morreram em decorrência das chuvas no estado até sábado (25). No total, 469 municípios foram afetados, e 581.638 moradores foram desalojados.

Ilan Kajan Golia, vice-presidente da corretora de seguros e consultora Alper, também espera um aumento disseminado nos preços das apólices. "Quando você tem eventos dessa magnitude nos Estados Unidos, no México, ou em qualquer região do mundo, eles são, de alguma forma, repassados a todos nós indiretamente. O mercado se autorregula de acordo com a sinistralidade", diz.

"Muitas vezes, não sabemos. Pensamos 'puxa, não bati o carro. Por que aumentou a taxa [da apólice]? Muito embora eu tenha um bônus e desconto'. E isso acontece porque a carteira da seguradora local ou internacional está afetada e ela vai reconduzir os preços", completa Kajan Golia.

Segundo o executivo, mais de 95% das carteiras de seguros no Brasil são resseguradas, ou seja, os seguros têm seus próprios seguros. Assim, a maior parte do risco fica concentrada nas empresas resseguradoras, como IRB(Re), Munich Re, Swiss Re, Hannover Re, de atuação global, que repassam o aumento de custo às seguradoras, que o distribuem por todo o portfólio —como auto, residencial, vida, patrimonial e operacional. Dessa forma, o aquecimento global tende a encarecer o custo das apólices como um todo.

Uma maneira de reduzir a concentração de risco do setor é via "cat bonds", títulos de dívida que concentram o custo de sinistro de determinadas apólices. Quem investe nesses papéis assume esse risco, e, se o seguro for acionado, o investidor toma prejuízo. Senão, fica com o lucro. No Brasil, um instrumento semelhante está prestes a estrear no mercado de capitais. O último passo é a autorização na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que deve acontecer ainda este ano.

"A ideia é buscar no mercado de capitais o lastro para a reserva técnica das seguradoras, que pode ser voltado para um produto ligado a eventos climáticos extremos", diz Ronaldo Gallo, sócio de seguros e resseguros do Madrona Fialho Advogados.

Dados apontam que a ocorrência desses eventos no Brasil tem aumentado. De acordo com a CNseg, 70% das perdas decorrentes de desastres naturais no país na última década aconteceram somente entre 2020 e 2023, atingindo 93% dos municípios brasileiros.

"O Brasil não estava no mapa de riscos catastróficos. E, agora, ele passa a figurar nesse cenário em decorrência de eventos da natureza, com intensidade ainda menor [que países com ciclones e terremotos], mas com potencial ofensor a causar sinistros", afirma Kajan Golia.




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