Rebeldes tomam cidade estratégica na Síria e se aproximam de Damasco
Rebeldes liderados pelo grupo radical islâmico HTS tomaram o controle da estratégica cidade de Homs ao mesmo tempo em que avançavam em direção à capital, Damasco, neste sábado (7). A movimentação ocorre uma semana depois do início da ofensiva que reiniciou a guerra civil no país e que pode derrubar o regime de mais de duas décadas do ditador Bashar al-Assad.
Tanto rebeldes quanto militares afirmaram à agência de notícias Reuters que as defesas de Homs foram rompidas pelo norte e leste da cidade, informação confirmada por um habitante. Mais tarde, dois insurgentes afirmaram à Reuters que o principal presídio local tinha sido capturado, e centenas de prisioneiros, libertados. O Exército sírio não comentou os relatos imediatamente.
Os combates estavam intensos no norte de Homs desde a noite de sexta-feira (6), com as forças da ditadura reforçadas bombardeando intensamente os rebeldes.
No mesmo período, os rebeldes disseram ter tomado quase toda a região sudoeste do país e avançado para um ponto a cerca de 30 quilômetros de Damasco. Um porta-voz do HTS, que teve origem na rede terrorista Al Qaeda em 2016, anunciou neste sábado que o cerco à capital havia começado.
Já o Ministério da Defesa sírio negou que seus militares tenham abandonado posições defensivas na capital e em suas proximidades como afirmado pelos insurgentes —pelo contrário, disseram que estavam reforçando sua presença nos arredores da área.
Reforçando a possibilidade de uma nova revolta na própria Damasco, manifestantes de um subúrbio da cidade derrubaram uma estátua do pai de Assad. A informação foi narrada por moradores, e um vídeo que circula nas redes sociais mostra a destruição do monumento.
Assad, aliás, supostamente permanece na capital, segundo a agência de notícias estatal síria. Uma pessoa com conhecimento do assunto afirmou à emissora CNN que o ditador não está em nenhum dos lugares em que usualmente é visto na cidade, e que seus guardas pessoais não estão alocados em sua residência, alguns dos quais costumam inclusive acompanhá-lo em viagens.
Analistas afirmam que o regime pode cair nos próximos dias. Desde a invasão dos rebeldes em Aleppo, no norte, no fim de semana passado, suas defesas desmoronaram rapidamente, com os insurgentes tomando uma série de grandes cidades e se reerguendo em lugares em que não parecia haver mais conflito.
Além de Aleppo, eles tomaram Hama, no centro; Deir al-Zor, no leste; e Quneitra, Deraa e Suweida, no sul.
As ameaças contra Homs, cidade cuja importância estratégica é considerada vital e, agora, a Damasco representam um risco existencial à ditadura —assim como à continuidade da influência de seu principal aliado regional, o Irã.
O ritmo dos acontecimentos surpreendeu os demais países árabes e aumentou os temores de uma nova onda de instabilidade regional.
A guerra civil síria, que começou em 2011 como uma revolta contra o regime de Assad, envolveu grandes potências externas, criou espaço para militantes jihadistas planejarem ataques pelo mundo e forçou o deslocamento de milhões de refugiados para nações vizinhas.
A ditadura sempre contou com seus aliados internacionais para subjugar os rebeldes. Bombardeios por aviões de guerra da Rússia eram frequentes, e o Irã enviou integrantes do grupo islâmico libanês Hezbollah e milícias iraquianas para reforçar o Exército sírio e atacar redutos de insurgentes.
Mas Moscou tem se concentrado na Guerra da Ucrânia desde 2022, e o Hezbollah sofreu grandes perdas em sua própria guerra contra Israel, limitando consideravelmente a capacidade da organização e do Irã de auxiliar Assad.
Os ministros das Relações Exteriores da Rússia, Irã e da principal força de apoio aos rebeldes, a Turquia, se reuniram neste sábado e concordaram que a integridade territorial da Síria e a retomada de um processo político são fundamentais.
Não houve indicação de que tenham concordado com passos concretos, no entanto. De todo modo, a instabilidade doméstica na Síria dificulta algo nesse sentido.
A Rússia possui uma base naval e uma base aérea no país, importantes não apenas para o apoio a Assad, mas também para a sua capacidade de projeção de influência no Mediterrâneo e na África.
Teerã disse que considera enviar forças ao território sírio, mas que qualquer assistência extra imediata provavelmente depende do Hezbollah e das milícias iraquianas.
O grupo libanês remeteu o que chamou de "forças de supervisão" para Homs na sexta, mas autoridades ocidentais avaliam que qualquer envio significativo de tropas cria o risco de exposição a ataques aéreos israelenses.
Já as milícias iraquianas estão em alerta máximo, com milhares de combatentes fortemente armados prontos para serem enviados à Síria, muitos deles concentrados perto da fronteira. Um porta-voz do governo de Bagdá afirmou, porém, que ele não busca uma intervenção militar no país na sexta.
A tomada de Homs, um importante ponto de contato entre a capital e o mar Mediterrâneo, cortaria Damasco da fortaleza costeira da seita minoritária de Assad, os alauitas, e também da base aérea e naval da Rússia.
"Homs é a chave. Vai ser muito difícil para Assad resistir, mas se Homs cair, a principal rodovia de Damasco para Tartus e a costa será fechada, isolando a capital das montanhas alauitas", disse Jonathan Landis, especialista da Universidade de Oklahoma.
No sul, a queda de Deraa e Suweida na sexta, seguida por Quneitra neste sábado, poderia permitir um ataque coordenado à capital, o centro de poder de Assad. A primeira tem importância simbólica como o berço da revolta. A cidade é capital de uma província de cerca de 1 milhão de pessoas e faz fronteira com a Jordânia.
No leste, uma aliança apoiada pelos EUA, liderada por combatentes curdos sírios, capturou na sexta Deir el-Zor, o principal reduto do regime no vasto deserto, disseram três sírios à Reuters, colocando em risco a conexão terrestre de Assad com seus aliados no Iraque.
Em um sinal do colapso das forças do regime no leste, cerca de 2.000 soldados sírios cruzaram a fronteira para o Iraque em busca de refúgio, disse o prefeito da cidade iraquiana fronteiriça de Al-Qaem.
Folha SP/Reuters e AFP