“Qual a idade certa para dar o primeiro celular ao meu filho?” Saiba o que dizem os especialistas
Você já ouviu falar sobre a piracema? Essa é uma época do ano marcada pelo aumento das chuvas, quando as águas dos rios ficam mais oxigenadas e os dias mais ensolarados. Essas mudanças climáticas sinalizam aos peixes que as condições estão favoráveis para a reprodução. Para isso, eles precisam nadar contra a correnteza, em um esforço coletivo que envolve diversas espécies de peixes em rios ao redor do mundo. Esse movimento é crucial, pois nadar contra a corrente ajuda os peixes a queimar gordura e a estimular a produção de hormônios responsáveis pelo amadurecimento dos órgãos sexuais. A jornada de reprodução varia entre as espécies: enquanto as piavas conseguem nadar apenas 3 quilômetros por dia, curimbatás já foram registrados percorrendo até 43 quilômetros em 24 horas. Algumas espécies chegam a nadar 600 quilômetros, conforme dados do Instituto da Pesca.
No entanto, essa jornada é cheia de desafios. Além de enfrentar obstáculos naturais como cachoeiras e predadores, os peixes também precisam lidar com a ameaça da pesca predatória. E o que isso tem a ver com o título dessa matéria? Assim como os peixes nadam contra a correnteza, é ainda pequeno o número de pais, mães e responsáveis que resistem à pressão social para dar um celular aos seus filhos.
A famosa frase “Mas todo mundo tem, menos eu!” continua a ecoar nas gerações de crianças e adolescentes, mas agora, em vez de desejarem álbuns de figurinha ou sorvetes, eles querem tablets ou smartphones. Os tempos mudaram, e nadar contra essa correnteza social ficou mais difícil. Além da pressão dos amigos, há a influência das grandes plataformas tecnológicas, as chamadas big techs. Como resistir? Qual o momento certo para ceder? Existe uma idade ideal para dar o primeiro celular a uma criança?
Segundo o pediatra Daniel Becker, o ideal é evitar o acesso ao celular até os 14 anos. Para aqueles que já têm um dispositivo, ele recomenda limitar ao máximo o tempo de uso. “Nos Estados Unidos, há uma campanha que incentiva a entrega do celular apenas na oitava série, quando as crianças têm 13 ou 14 anos, ou até mesmo no Ensino Médio. Isso é crucial. Quanto mais cedo a criança tem um celular, maior é a chance de desenvolver um vício, menor a probabilidade de viver uma adolescência normal, e maior o risco de depressão. A criança precisa passar pela puberdade sem celular,” orienta Becker.
Nos Estados Unidos, as escolas públicas estão adotando medidas cada vez mais rigorosas para afastar os jovens dos celulares. Em maio, por exemplo, o estado da Flórida aprovou uma lei que proíbe o uso de celulares durante as aulas, com algumas escolas estendendo essa restrição para todo o período escolar. As autoridades locais justificam essas medidas devido ao uso excessivo das redes sociais, que compromete a educação, o bem-estar e a segurança dos estudantes. Em várias escolas, adolescentes têm planejado e filmado agressões contra colegas, compartilhando os vídeos em plataformas como TikTok e Instagram.
No Brasil, duas iniciativas têm ganhado força: o Movimento Desconecta, liderado por mães que decidiram nadar contra a corrente, e um projeto de lei da deputada estadual Marina Helou, que visa proibir o uso de celulares dentro das escolas.
Gabriel Salgado, coordenador da área de Educação do Instituto Alana, reforça que as telas não devem substituir ou competir com atividades essenciais das crianças e adolescentes, como exercícios físicos, horas de sono, alimentação, contato com a natureza e interações sociais. “É fundamental entender que não é benéfico dar celulares como presentes que substituem brincadeiras. E que o brincar das crianças não deve se restringir ao uso de brinquedos específicos,” afirma.
Becker acrescenta que, no mundo ideal, o acesso ao celular seria adiado até os 16 anos. No entanto, se os pais decidem permitir o uso, é essencial que haja supervisão. “Hoje em dia, existem aplicativos que controlam o tempo de uso e sincronizam perfis, permitindo que os pais saibam com quem a criança está se comunicando e o que está acontecendo. É fundamental controlar os contatos, os grupos sociais e as conversas no WhatsApp. Não pode haver grupos de crianças e adolescentes sem supervisão dos pais,” orienta.
Fonte: Jornal do Sul