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Madonna abriu as portas do gozo e da sacanagem às mulheres de uma geração.

Mulher gostosa nunca foi novidade para ninguém. Mudam os costumes, mudam os valores, mudam o que as mulheres fazem para ser desejadas.

E dá-lhe dieta para emagrecer numa fase, exercício para ter coxa dura em outra, cirurgia para diminuir o peito, depois para aumentar o peito, preenchimento de bunda, paralisação dos músculos faciais e muita, muita tinta de cabelo.

Desde que o mundo é mundo. E não é que a sobrevivência da espécie humana não esteja intrinsecamente ligada a todo esse quiprocó, mas isso é assunto para outra pessoa, em outro espaço, com outro propósito. O fato é que é assim.

Mas, até os anos 1980, tinha meio que uma separação precisa nos "estilos" de mulheres, principalmente nas mulheres famosas.

Tinha as gostosas clássicas, tipo Marilyn Monroe, que atraiam os homens, mas eram consideradas menos espertas, como se tanta beleza fosse quase uma apelação, um jogo meio sujo na concorrência com as outras. Tinha as elegantes, tipo a Jackie O., a Audrey Hepburn, mulheres incapazes de qualquer vulgaridade. Mulher para casar, lembra dessa distinção?

Foi a Madonna que vestiu publicamente, pela primeira vez, na pessoa jurídica, para o mundo todo ver, esse modelo de mulher que faz o que for preciso para transar com quem quiser, quantas vezes tiver vontade. E que ia ser gostosa, sim, para atrair potenciais parceiros, sim, mas era ela que ia escolher. E seria levada a sério como artista no processo.

E ainda brincou com fetiches, com sadomasoquismo, coisa considerada doentia, de gente perversa, perigosa. Ela foi lá ver do que se tratava e mostrou ao mundo. Talvez tenha conhecido numa boate secreta do Meatpacking District de Nova York, que hoje em dia é chique e caro, mas que nos anos 1980 reunia os açougues e distribuidores de carne da cidade e cheirava a carniça. À noite abria umas boates sinistras em que pessoas igualmente sinistras davam vazão aos seus desejos mais secretos.

Madonna levantou o véu que cobria esse submundo e convidou a gente para brincar com ela. Como dizia um verso de uma música dessa época, criado por Cazuza, a quem ela deve homenagear no show de sábado em Copacabana, foi como se ela dissesse para todas nós: "Vem comigo, no caminho eu explico".

Eu fui.

Fonte: Folha SP.




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