Entenda impactos positivos e negativos da EAD para formar professores no País
O Ministério da Educação (MEC) recentemente homologou um parecer do Conselho Nacional da Educação (CNE), que determina que cursos de formação de professores, como Licenciaturas e Pedagogia, devem ter 50% de carga horária presencial. Esta medida levanta a questão: a educação a distância (EAD) é eficaz para formar professores, ou a formação deveria ser exclusivamente presencial?
Defensores do ensino EAD argumentam que ele oferece uma alternativa viável para alunos de baixa renda que trabalham e têm menos tempo para estudar. Além disso, facilita o acesso à educação para quem vive em áreas rurais, no interior e nas periferias urbanas.
Alguns especialistas, no entanto, questionam a qualidade da formação de professores via EAD, apontando a falta de aulas práticas e de interação presencial com colegas e professores como grandes desvantagens. João Mattar, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), e Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península, discutem os dois lados dessa questão.
Heloisa Morel, do Instituto Península, ressalta que um diploma sem qualidade não ajuda o aluno a melhorar de vida. “Oferecer uma formação inadequada a baixo custo perpetua a exclusão social”, afirma Morel. Ela também destaca que a carreira dos professores envolve várias questões que precisam ser abordadas pelo governo e pela sociedade, além do formato EAD.
João Mattar esclarece que a legislação brasileira não permite cursos 100% a distância. O modelo nacional inclui polos de apoio presencial, onde são realizadas provas e encontros periódicos. “O Brasil adotou um modelo que utiliza polos de apoio presencial, diferente do modelo de alguns países”, explica Mattar.
Heloisa Morel aponta que os cursos de EAD mais procurados são Pedagogia e Educação Física, mas faltam professores em áreas como Química, Física e Inglês. Ela defende a oferta de bolsas específicas para estudantes de ensino presencial em regiões e disciplinas com maior carência de docentes.
Durante uma fiscalização do Conselho Federal de Enfermagem, foi encontrado um polo de EAD funcionando em uma borracharia, exemplificando a dificuldade do MEC em fiscalizar adequadamente esses cursos. Mattar sugere a criação de um instituto independente para essa tarefa, financiado pelas universidades.
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que os professores são responsáveis por quase 60% do desempenho dos alunos no ensino fundamental. Heloisa Morel enfatiza a importância da prática em sala de aula durante a formação dos professores, algo que o EAD não proporciona adequadamente.
Perfil do Aluno de EAD
O típico aluno de EAD é mais velho, trabalha 40 horas por semana, é casado e não pode sair de sua cidade. Mattar argumenta que muitos desses alunos não conseguirão completar 50% do curso presencialmente devido às suas responsabilidades e localização geográfica.
“A maioria dos alunos de EAD não poderá fazer 50% do curso presencialmente, pois trabalham e vivem em cidades sem oferta de cursos presenciais”, conclui Mattar.
A EAD oferece uma solução acessível e flexível para muitos, mas enfrenta críticas quanto à qualidade da formação e à falta de experiência prática. Equilibrar esses fatores é essencial para garantir que a formação de professores atenda aos padrões necessários para uma educação de qualidade no Brasil.
Fonte: Jornal Estadão