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Dólar tem forte queda com expectativa por cortes de gastos ofuscando vitória de Trump nos EUA

O dólar apresenta forte queda nesta quarta-feira (6), com as expectativas dos investidores sobre o pacote de corte de gastos do governo federal anulando os efeitos da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

A moeda, que disparou para R$ 5,861 logo após o início das negociações, apresentava recuo de 1,08% às 16h09, cotada a R$ 5,683 na venda.

Já a Bolsa caía 0,21%, aos 130.385 pontos, também desacelerando perdas em relação a mais cedo.

A volatilidade já era esperada por grande parte do mercado. O republicano foi declarado eleito por volta das 7h30 desta manhã, quando alcançou a marca de 276 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Ele precisava ter ao menos 270 votos para vencer a disputa com Kamala Harris.

"Houve uma primeira reação extrema, quando a demanda por dólares explodiu, e, depois, os investidores foram olhando para os fatores externos e domésticos com mais calma", diz Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.

Ele explica que o real já estava "muito desvalorizado" por conta das expectativas dos investidores em relação às contas públicas do Brasil, bem como pelas projeções de que Trump sairia vitorioso da eleição. Como parte dos efeitos já estavam precificados no câmbio, a moeda brasileira se descolou do exterior.

"Grande parte do movimento já havia sido antecipada, e, olhando para o futuro, com um alívio no cenário fiscal do Brasil e com juros ainda subindo, a moeda brasileira pode voltar a ganhar espaço após a turbulência de curto prazo", afirma Eduardo Moutinho, analista de mercado do Ebury Bank.

Pesou, ainda, a declaração do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de mais cedo. Segundo o chefe da ala econômica, a rodada de reuniões com autoridades do governo que poderão ser afetadas pelas medidas fiscais foi concluída.

O próximo passo, agora, é uma conversa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os líderes das duas Casas do Congresso —Arthur Lira, da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco, do Senado— para discutir o envio do pacote para análise dos parlamentares.

"Os ministros todos estão muito conscientes da tarefa que temos pela frente de reforço do arcabouço fiscal, da previsibilidade e da sustentabilidade das finanças no médio e longo prazo. Penso que há um consenso em torno do princípio", afirmou Haddad.

A previsão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, que terminaram no domingo passado (27).

A contenção de gastos atende, também, à insatisfação do mercado em relação à estabilidade das contas públicas. Para os investidores, é preciso ajustar a ponta das despesas, e não só reforçar a arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.

O dia ainda guarda a decisão de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), após o fechamento dos mercados.

O colegiado decidiu reiniciar o ciclo de apertos na taxa Selic na reunião passada, quando optou por uma alta de 0,25 ponto percentual e levou os juros a 10,75% ao ano.

Com a piora no cenário econômico nos últimos 45 dias, o mercado espera que o comitê acelere o ritmo de altas para 0,5 ponto percentual.

O aumento do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos também tende a favorecer o real, por causa de investimentos do tipo "carry trade" —isto é, quando operadores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em países de taxas elevadas.

Folha SP




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