Dólar abre em alta e ultrapassa R$ 6,10 nesta terça, um dia após registrar recorde
Após atingir o seu recorde nominal na segunda-feira (16), o dólar abriu em alta nesta terça-feira (17) e superou a casa de R$ 6,10. Às 10h22, a moeda norte-americana disparava 1,29%, cotada a R$ 6,170, com investidores avaliando a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), que indica alta dos juros para 2025.
Com a disparada da moeda, o BC (Banco Central) realizou, nesta terça, a sexta ação em menos de uma semana para conter a subida. A autoridade vendeu US$ 1,272 bilhão em leilão extraordinário.
O BC havia realizado cinco leilões de câmbio desde a semana passada. Foram vendidos US$ 2,48 bilhões de dólares em operações à vista e outros US$ 7 bilhões na modalidade em linha, com o compromisso de recompra em prazo determinado. No entanto, as intervenções da autoridade monetária não conseguiram conter alta da divisa americana.
Já a Bolsa avançava, com variação positiva de 0,16%, aos 123.765 pontos, às 10h22.
No cenário interno, os investidores avaliam a ata do Copom do BC, divulgada nesta manhã, que aponta que a piora da inflação de curto e médio prazo exigiu postura mais tempestiva e o cenário se tornou mais adverso com a materialização de riscos.
Na última quarta (11), em seu último encontro de 2024, o Copom elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano.
O comitê prevê um aumento de juros de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025.
Se o cenário se concretizar, a Selic chegará ao patamar de 14,25% ao ano –pico da taxa básica na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.
No mercado exterior, os investidores aguardam a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre a taxa de juros do país, que será divulgada nesta quarta-feira (18).
Na segunda, mesmo após dois leilões extraordinários de câmbio feitos pelo BC (Banco Central), o dólar fechou no maior valor nominal da história, encerrando o pregão com disparada de 1,03%, cotado a R$ 6,091.
A autoridade monetária injetou US$ 4,6 bilhões no mercado de câmbio nesta segunda, mas isso não foi o suficiente para conter a alta da moeda. Esta foi a quarta intervenção do BC em menos de uma semana com o objetivo de controlar o avanço do dólar.
O real foi a moeda que mais se desvalorizou entre as moedas dos países emergentes e entre as principais moedas do mundo.
Já a Bolsa fechou com forte queda de 0,84%, aos 123.560 pontos.
Os juros saltaram em toda a extensão da curva de contratos futuros. O contrato para janeiro de 2027 estava em 15,52%, ante 15,05% no ajuste anterior, com variação de 0,47 ponto percentual. Já o contrato para janeiro de 2029 estava em 15,27%, ante 14,61% no ajuste anterior, com variação de 0,66 ponto percentual.
A taxa para janeiro de 2035 subiu 0,73 ponto percentual, de 13,86% para 14,59%.
Ainda que o valor de R$ 6,09 seja recorde na base nominal —a que desconsidera a inflação do cálculo—, a maior cotação real foi atingida em setembro de 2002, na esteira da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Corrigido pela inflação, o valor do dólar naquela ocasião seria hoje o correspondente a R$ 8,75.
A conta, feito pela consultoria Elos Ayta, considera a cotação da Ptax —a taxa de câmbio calculada pelo BC (Banco Central)— e ajustes pela inflação brasileira (IPCA) e norte-americana (CPI) até novembro de 2024.
Analistas consultados pela Folha avaliam que a alta do dólar persiste devido às incertezas fiscais e à falta de confiança dos investidores na condução econômica do governo brasileiro.
Apesar das intervenções do BC com leilões, para os especialistas, os problemas estruturais, como a ausência de um plano fiscal robusto e consistente, continuam alimentando a pressão sobre o câmbio.
"O dólar segue subindo porque as incertezas fiscais e monetárias no Brasil, exacerbadas pelas críticas do governo à política de juros e pela falta de um pacote fiscal robusto, estão gerando desconfiança entre os investidores", afirma Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos.
Rodrigo Miotto, gerente de câmbio da Nippur Finance, explica que os leilões do BC têm efeito de curto prazo, ajudando a conter a volatilidade, mas não são suficientes para resolver problemas econômicos estruturais. "É um remédio apenas para tratar o sintoma, mas não a causa da dor."
A autoridade monetária já realizou quatro leilões desde a semana passada para conter o dólar.
Nesta segunda, em um leilão extraordinário de dólares à vista, o BC vendeu US$ 1,6275 bilhão. Em comunicado, a autarquia disse que foram aceitas 18 propostas entre 9h35 e 9h40 no pregão não programado e que a taxa de corte foi de 6,0400.
Esse foi o maior valor injetado pelo BC no mercado em um único leilão de dólares à vista desde 10 de março de 2020, quando foram vendidos US$ 2 bilhões.
Na sequência, a autoridade monetária vendeu US$ 3 bilhões com compromisso de recompra, no chamado leilão de linha. Foram aceitas seis propostas, entre 10h20 e 10h25, no valor total ofertado. O BC comunicou que a taxa de corte do leilão foi de 6,010000%
As operações serão liquidadas na próxima quarta-feira (18), e a recompra de dólares está prevista para 6 de março de 2025. A realização do leilão de linha tinha sido programada pela autoridade monetária na última sexta (13).
Trata-se de uma intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio. Na prática, é uma injeção de dólares no mercado como forma de atenuar disfuncionalidades nas negociações e diminuir a cotação, seguindo a lei da oferta e demanda.
FOLHA SP