Conectado ao sonho do pai, Braithwaite é a esperança de gols do Grêmio no Gre-Nal 443
Um feito que não se repete há mais de um século está ao alcance de um dos estreantes do Gre-Nal 443. Depois de 113 anos, um europeu terá a chance de voltar a marcar no maior clássico do futebol gaúcho. Uma responsabilidade que Martin Braithwaite, 33 anos, carregará ao pisar em campo no Beira-Rio neste sábado, às 16h. Com orgulho e profissionalismo, duas marcas do início de sua aventura pelo futebol brasileiro. Aliás, esse caminho inverso, da Europa para cá, representa um sonho que conecta o centroavante ao seu pai.
O primeiro gol europeu, e único até o momento, foi do zagueiro alemão Schuback. Ele fez um na goleada gremista de 10 a 1 em 18 de junho de 1911. Esse foi o terceiro clássico Gre-Nal da história, válido pelo Campeonato Citadino.
Agora, 440 clássicos depois, a oportunidade depende apenas de Braithwaite para se repetir. Uma chance que ele pretende aproveitar e que teve seu pai como um dos entusiastas. Keith Braithwaite, natural da Guiana Francesa, transmitiu ao filho Martin a admiração pelo futebol brasileiro.
— Desde pequeno, meu pai me dizia que tinha que olhar os jogadores do Brasil, como jogam. Fui uma criança que amava futebol e a maneira como jogam os brasileiros. Durante toda a minha vida, me inspirei no futebol jogado neste país. Estar aqui hoje é um sonho para mim — declarou o centroavante em sua apresentação.
Keith também foi o responsável pela mentalidade que hoje impulsiona Martin a seguir em alto nível na carreira. Mesmo que tenha adotado um estilo linha-dura para tirar o potencial que via do filho.
— Era muito difícil pra mim como criança. Quando seu pai é tão duro, você passa a se questionar. Será que meu pai realmente me ama? Sabia que, se não jogasse bem, gritaria comigo. Me fazia chorar. Quando chegávamos em casa, ficava dias sem falar comigo — contou Martin, em um documentário feito sobre sua vida.
O pai, passados os anos, admite que passou do ponto com o filho. Reconheceu que sua rigidez afastou-os na infância:
— Sempre me disse que, se tivesse um filho com talento, o motivaria. Me sentia mal. Nunca pedi desculpas ou mostraria que era fraco, mesmo que sofresse por ser tão duro com ele. Como pai, quero que ele seja 10 vezes melhor do que eu. E ele é. Fiz meu trabalho. Os dias de pressão a ele passaram.
Apesar das lições duras, Martin afirmou que cresceu com os ensinamentos dados pelo pai, mesmo que os métodos fossem quesitonáveis.
— Eu e meu pai somos muito próximos atualmente. Foi duro, mas entendo a razão. Sou agradecido a ele hoje em dia — disse.
O impulso paterno o levou a sair do Esbjerg fB, na Dinamarca, para rodar pelos principais mercados da Europa. Em 2013, rumou para a França, onde defendeu o Toulose por quatro temporadas. De lá, partiu para a Inglaterra e atuou por dois anos no Middlesbrough. Depois, teve rápida volta à França para jogar no Bordeaux, e chegou à Espanha, onde deslanchou no Leganés. Seus gols na La Liga motivaram o Barcelona a comprá-lo em 2019. Foram três anos no Camp Nou antes de rumar para o rival Espanyol em 2022. Até que, no final da temporada 2023/2024, decidiu trocar a vida nas margens do Mediterrâneo para viver o sonho de jogar no futebol brasileiro.
O centroavantes cumpriu uma trajetória de superação até se tornar esperança de gols gremistas no clássico. O pequeno Martin Christensen Braithwaite, filho de mãe dinamarquesa e pai guianês, passou dos cinco ao sete anos em um cadeira de rodas, como parte do tratamento para a doença de Legg-Calvé-Perthes. O pouco suprimento de sangue ao quadril foi tratado com repouso quase absoluto dos membros inferiores. Um período que até hoje serve de motivação ao jogador para correr e se dedicar ao limite nas atividades.
Aliás, a dedicação é uma característica muito marcante dos primeiros meses do atacante no Brasil. Em Porto Alegre desde o dia 23 de julho, Braithwaite vive intensamente a rotina do trabalho. É um dos primeiros a chegar e quase sempre o último a sair. O detalhamento das suas atividades pós-treino causou até ajustes na rotina dos funcionários que trabalham no CT. Mesmo quando a sessão é marcada para o turno da manhã, ele não deixa o CT antes das 16h. Além de fazer as refeições no local, participar do treino com os companheiros, passa por cada uma das áreas do CT para trabalhos físicos e atividades de recuperação. Uma rotina que o abastece na busca dos gols pelo Grêmio.
GZH