Como a indústria brasileira pode usar a seu favor a transição energética?
O Brasil ocupa uma posição privilegiada quando se trata de transição energética. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) indicam que cerca de 85% da matriz elétrica do país é composta por fontes de energia limpa, como hidrelétrica, eólica, solar e biomassa. O potencial de crescimento dessas fontes renováveis é imenso, colocando o país em destaque globalmente.
Essa vantagem se torna um diferencial importante na atração de investimentos, especialmente em um cenário onde as questões climáticas têm ganhado relevância nas decisões de empresas e governos. No entanto, apesar dessa posição favorável, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos, especialmente em termos de regulação, segurança jurídica e infraestrutura, para se tornar realmente competitivo no setor de energias renováveis.
Para debater esses desafios, o Estadão promove o seminário "Neoindustrialização apoiada pela transição energética — Como unir a política industrial e a política de sustentabilidade", nesta sexta-feira, 20 de setembro, no salão nobre da Fiesp, em São Paulo. O evento, que tem apoio institucional de entidades como Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI, será transmitido ao vivo pelo portal do Estadão e tem início às 9h.
Energia Renovável: Oportunidades e Desafios
Segundo Rogério Zampronha, CEO da Prumo Logística e um dos palestrantes do evento, o Brasil possui algumas das melhores condições do mundo para a produção de energia renovável, graças aos seus recursos naturais, como vento, sol e água em abundância. "O Brasil deveria ter a energia renovável mais barata do mundo", afirma Zampronha. Ele destaca ainda o potencial do país na produção de biomassa, biogás e hidrogênio verde, além do rápido crescimento das florestas brasileiras, que também pode ser um diferencial.
No entanto, o Brasil está atrasado na regulamentação do setor, especialmente quando comparado a países da Europa Ocidental, que avançaram mais rapidamente nessa área. Segundo Zampronha, essa falta de regulação pode prejudicar a competitividade do Brasil no mercado internacional. “Se não nos adequarmos, o mercado externo começará a impor barreiras tarifárias e regulatórias para nossos produtos”, alerta.
O Risco de Atraso na Descarbonização
Rodrigo Pupo, advogado especializado em comércio internacional e industrialização verde, reforça a urgência de o Brasil se engajar em uma política de descarbonização. Ele argumenta que o país precisa acompanhar de perto o que está sendo feito no exterior, especialmente para evitar que políticas de subsídios sejam usadas como ferramentas de protecionismo e comércio desleal. “O Brasil tem uma oportunidade imediata que não pode desperdiçar. A estratégia precisa ser nacional, garantindo estabilidade ao setor produtivo e atraindo investimentos”, afirma.
Combustíveis Sustentáveis para Aviação (SAF)
Uma das áreas promissoras para o Brasil no contexto da transição energética é a produção de combustíveis sustentáveis de aviação, conhecidos como SAF (Sustainable Aviation Fuel). O Brasil, com sua expertise em biocombustíveis, tem o potencial de se tornar um polo relevante na produção de SAF, segundo Guillaume Gressin, diretor executivo de estratégia da Airbus na América Latina. Ele destaca que, além do conhecimento técnico, o ambiente regulatório brasileiro tem gerado confiança nos investidores internacionais.
Recentemente, o Congresso aprovou o projeto "combustível do futuro", que inclui a criação de programas nacionais de SAF, diesel verde e biometano, aguardando agora a sanção presidencial. Gressin ressalta que, por se tratar de projetos de grande porte, é crucial que o país tenha regras claras e consistentes para garantir a continuidade dos investimentos, mesmo em cenários de mudanças políticas.
Jornal Estado de São Paulo