Claudia Sheinbaum é 1ª mulher eleita presidente do México
Claudia Sheinbaum vai suceder a Andrés Manuel López Obrador, seu padrinho político, e será a primeira mulher na história a governar o México, indica apuração inicial dos resultados.
Às 2h de Brasília (23h locais), 25% das atas eleitorais estavam apuradas e apontavam vitória da governista com 57,2% dos votos. Na sequência, a opositora Xóchitl Gálvez marcava 30%. A apuração começou às 23h.
O pleito consolidado neste domingo (2) foi marcado por alta violência em várias regiões do país e ao menos 37 aspirantes a cargos políticos assassinados desde o início do ano, segundo levantamento atualizado da organização independente Laboratório Eleitoral.
Sheinbaum aparecia com larga vantagem na maior parte das pesquisas de intenção de voto. Ela herdou o capital político de AMLO, maneira como o presidente é conhecido, ainda que seu carisma pessoal esteja muito distante do que goza o líder populista.
No final da noite no horário local, já madrugada em Brasília, acusações de fraude na capital começaram a surgir após relatos de que o sistema do Instituto Eleitoral da Cidade do México havia saído do ar por curto período de tempo por um ciberataque. A reportagem falou com equipe da presidente do órgão, que disse que a informação era falsa.
Ainda assim, era extremamente lenta a contagem de votos na capital mexicana. Após mais de três horas do início da divulgação dos resultados parciais, haviam sido computadas somente 1,5% das atas.
A provável próxima ocupante do Palácio Nacional terá desafios em diversas frentes. Na economia, vê-se diante de um momento-chave do nearshoring, a estratégia de aproximar a cadeia de produção do consumidor final, no caso os Estados Unidos, em um movimento impulsionado pela Guerra Fria 2.0 de Washington com a China.
AMLO não desenvolveu um plano industrial, e uma interpretação comum é a de que houve "sorte conjuntural" para o México se tornar o principal exportador para os EUA. Agora, para analistas, é preciso uma política concreta para o setor se manter no patamar atual.
No campo da segurança pública, Sheinbaum herda o sexênio com mais homicídios da história mexicana, ainda que as cifras tenham caído ligeiramente no último ano. López Obrador apostou na militarização como saída. Mais do que isso, inflou o poder e a verba dos militares, dando a eles o controle de aeroportos e de obras de infraestrutura. Até aqui, Sheinbaum indicou continuidade nesse sentido.
A própria campanha foi um demonstrativo do poder dos cartéis do narcotráfico. O nível de violência política foi recorde, e mais de 200 centros de votação não puderam funcionar por temor de ataques.
A imigração, tema sempre presente na relação com os EUA, ganhou mais peso diante do aumento do fluxo de quem tenta cruzar a fronteira e da maior repressão a esse movimento. Nunca antes o México prendeu tantos imigrantes —foram 481 mil de janeiro a abril deste ano, alta de 230% em relação ao mesmo período de 2023.
A provável eleita representa uma tríade de partidos da situação: o Morena, uma das siglas mais jovens, fundada em 2011 por Obrador; o PT (Partido do Trabalho) e o PVEM (Partido Verde Ecologista). A reeleição não é permitida no México, o que força a saída de AMLO do poder.
"A vitória de Claudia representa um sonho não concretizado de nossas avós", disse o presidente do Morena, Mário Delgado, à imprensa. Denotando o perfil nacionalista de seu partido, seguiu: "Derrotamos uma oposição classista, racista e corrupta que quer entregar o país aos monstros internacionais."
Sheinbaum derrotaria a ex-senadora Xóchitl Gálvez, indígena que se tornou uma empresária de sucesso e representava uma histórica coalizão de oposição formada pela tríade de partidos mais antigos do México: PRI (Partido Revolucionário Institucional), de 1929 e que governou ininterruptamente até 2000; PAN (Partido Ação Nacional), de 1939; e PRD (Partido da Revolução Democrática), de 1989.
Ainda que em sua plataforma de "Quarta Transformação", como foi apelidado o plano de governo, Sheinbaum prometa uma gestão de total continuidade —"levaremos ao segundo nível os avanços consagrados por AMLO", disse no ato de encerramento de campanha—, a analista Sofía Fuentes diz que a eleita deve operar um "governo descafeinado".
É uma referência à postura arredia de AMLO em alguns setores. Ele conduzia ataques reiterados à imprensa e a organizações sociais e operou um plano protecionista, notadamente na área energética, que tentou concentrar nas mãos de estatais.
Para Fuentes, da consultoria Prospectiva, Sheinbaum demonstra maior possibilidade de abertura privada, menos ataques a opositores e maior investimento em infraestrutura para catapultar o nearshoring.
A grande dúvida sobre a nova gestão é sobre qual influência López Obrador terá no novo governo e se haverá um distanciamento entre padrinho e apadrinhada.
"A narrativa de Sheinbaum pode seguir semelhante à de AMLO, mas nos parece que o operacional tende a desviar um pouco", afirma.
Nem Sheinbaum nem Xóchitl empolgaram os movimentos organizados de mulheres, para os quais seus planos de governo eram demasiado comedidos na agenda de gênero. O México tem altas taxas de violência contra a mulher.
Entre outras coisas, a candidata de López Obrador defende que o combate à violência doméstica seja feito com a retirada do agressor da casa da família e que haja um apoio financeiro mensal para mulheres de 60 a 64 anos, idade anterior à aposentadoria.
Durante o domingo, a votação ocorreu sob relativa tranquilidade em algumas regiões, como a capital, mas com casos de violência armada em outros. Longas filas eram observadas nas "casillas", os locais onde estavam instaladas as urnas e que, em média, tinham 750 eleitores registrados cada.
Com Folha SP