Argentina identifica chefe do Hezbollah responsável por recrutamento no Brasil
A ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, identificou nesta sexta (25) Hussein Ahmad Karaki como o chefe do Hezbollah na América Latina, que seria responsável pelo recrutamento na região, inclusive no Brasil, e um dos autores dos atentados à embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992, e ao prédio da associação judaica Amia, em 1994.
O homem, que usaria os nomes falsos de Alberto Leon Nain e Elías Ribeiro da Luz, vive hoje no Líbano, de acordo com a ministra. Karaki também teria ligações com facções criminosas brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho.
Bullrich também o acusou de estar por trás de outros planos de ataques em território brasileiro e boliviano, e aproveitou para criticar governos sul-americanos por não condenarem o Hezbollah e o Irã, aliado do grupo libanês.
"Brasil, Peru, Bolívia e Colômbia, onde tentaram matar dois ex-diplomatas israelenses e perpetrar os fatos citados, não condenaram o Hezbollah ou as ações de apoio do Irã", disse a ministra em conversa com jornalistas, segundo o jornal Clarín.
"Hussein Ahmad Karaki supervisionou a logística dos atentados contra a Argentina, da embaixada de Israel, em março de 1992, e da Amia, em julho de 1994. Durante esse lapso, transitou por Argentina, Brasil e Paraguai", afirmou Bullrich.
De acordo com a ministra, Karaki foi a pessoa que comprou o veículo utilizado como carro-bomba no atentado à embaixada de Israel em Buenos Aires, usando o nome Elías Ribeiro da Luz e documento brasileiro. Ele teria deixado a capital argentina na hora do ataque em direção à cidade de Foz do Iguaçu (PR), na tríplice fronteira.
Ainda segundo o governo argentino, Karaki atuava sob ordens diretas de Hassan Nasrallah, chefe do grupo xiita libanês do início da década de 1990 até sua morte, há um mês, após ataque de Israel em Beirute.
"É um baque muito forte mostrar o rosto dele e dizer onde ele está", afirmou Bullrich durante entrevista coletiva. Segundo a ministra, a fotografia mais recente de Karaki consta em documento providenciado pela ditadura da Venezuela em 2004, com o nome de David Assi e data de nascimento de 12 de junho de 1968.
De acordo com o jornal argentino Clarín, a decisão de identificar Karaki agora tem por objetivo passar uma "mensagem de dissuasão às ações do Hezbollah" e contribuir com evidências para depois "solicitar o pedido de captura internacional" do extremista.
Poucos dias após os ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, a Polícia Federal brasileira deflagrou a operação Trapiche, que prendeu três pessoas em investigação sobre a atuação do Hezbollah no recrutamento de brasileiros para atos preparatórios de terrorismo —o grupo libanês é aliado do palestino Hamas contra Israel.
O grupo estaria planejando ataques a alvos israelenses em países da América Latina, e dois dos suspeitos estavam no Líbano no momento da operação. Não foram divulgados nomes de líderes ou responsáveis na ocasião.
O ataque à Amia, em 1994, em Buenos Aires, foi o maior atentado terrorista da história da América do Sul. A explosão de um carro-bomba na sede da associação, que celebrava seu centenário no país, deixou 85 mortos.
Dois anos antes, o alvo havia sido a Embaixada de Israel na capital argentina, quando 29 morreram.
Em abril deste ano, a Justiça do país culpou o Irã como mandante dos atentados. Teerã é o fomentador, financiador e fornecedor de armas ao Hezbollah desde a criação do grupo.
Próximo da comunidade judaica, o presidente argentino, Javier Milei, aproveitou a decisão da Justiça para alfinetar antecessores ao afirmar que a decisão expunha "as reiteradas tentativas do kirchnerismo de encobrir a responsabilidade do Irã e postergar essa decisão histórica".
A decisão judicial afirmava que o Irã assumia "responsabilidade internacional" por ser promotor e financiador de ato terrorista fora de suas fronteiras, o que implica "a obrigação de reparar integralmente o dano causado, moral e material", sugerindo que o caso pudesse ser levado a tribunais internacionais.
Folha SP